segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias




                                                                                                                             Regina Novaes

Um caleidoscópio: semelhanças e diferenças entre jovens brasileiros


Lembrar que "juventude" é um conceito construído histórica e culturalmente já é lugar-comum. As definições sobre "o que é ser jovem?", "quem e até quando pode ser considerado jovem?" têm mudado no tempo e são sempre diferentes nas diversas culturas e espaços sociais.

Circunscrevendo o olhar ao nosso tempo e à nossa cultura, tais definições refletem disputas nos campos político e económi­co, e também conflitos entre e intragerações. Observa-se que exis­tem grupos e segmentos juvenis organizados que falam por parce­las da juventude, mas nenhum grupo tem a delegação de falar por todos aqueles que fazem parte da mesma faixa etária. E certamen­te pesquisadores, pais ou "responsáveis" também não podem falar por eles.

E quem são "eles"? São aqueles nascidos há 14 ou 24 anos - se­ria uma resposta. No entanto, esses limites de idade também não são fixos. Para os que não têm direito à infância, a juventude come­ça mais cedo. E, no outro extremo - com o aumento de expectativas de vida e as mudanças no mercado de trabalho -, uma parte "deles" acaba por alargar o chamado "tempo da juventude" até a casa dos 30 anos. Com efeito, qualquer que seja a faixa etária estabelecida, jo­vens com idades iguais vivem juventudes desiguais.

Entre os jovens brasileiros de hoje, a desigualdade mais evi­dente remete à classe social. Esse recorte se explicita claramente na vivência da relação escola/trabalho. A indagação sobre quando e como um jovem começa ou termina de estudar ou trabalhar expõe as fissuras de classe presentes na sociedade brasileira. Este "quan­do" e este "como" revelam acessos diferenciados a partir das con­dições económicas dos pais. Contudo, nas trajetórias dos jovens, as diferenças de origem social e a situação de classe não esgotam o assunto.

Género e raça são outros dois recortes que interferem no pro­blema. As moças pobres podem até se "beneficiar" do crescimento do emprego doméstico, mas ganham menos que os rapazes quando ocupam os mesmos postos de trabalho. Por outro lado, a "boa aparência" exigida para os empregos exclui os jovens e as jovens mais pobres, e este "requisito" atinge particularmente jovens ne­gros e negras. Ser pobre, mulher e negra ou pobre, homem e bran­co faz diferença nas possibilidades de "viver a juventude".

Mas, de novo, não é tudo. Para a maioria da juventude brasilei­ra que vive nas grandes cidades, há ainda um outro critério de dife­renciação: o local de moradia. O endereço faz diferença: abona ou desabona, amplia ou restringe acessos. Para as gerações passadas esse critério poderia ser apenas uma expressão da estratificação social, um indicador de renda ou de pertencimento de classe. Hoje, certos endereços também trazem consigo o estigma das áreas urbanas subjugadas pela violência e a corrupção dos traficantes e da polícia - chamadas de favelas, subúrbios, vilas, periferias, mor­ros, conjuntos habitacionais, comunidades. Ao preconceito e à discriminação de classe, género e cor adicionam-se o preconceito e "a discriminação por endereço".

No acesso ao mercado de trabalho, o "endereço" torna-se mais um critério de seleção. No imaginário social, "o jovem que mora em tal lugar de bandidos é um bandido em potencial: me­lhor não empregar". Ou se ele "mora ali, não vai poder sair para trabalhar quando houver um conflito entre grupos de traficantes ou entre traficantes e a polícia: melhor não empregar". Conscientes da existência da "discriminação por endereço" que opera -consciente ou inconscientemente - nas seleções para o trabalho, muitos jovens encontram estratégias para ocultar o lugar onde vi­vem e lançam mão de endereços dos patrões dos pais, de parentes, de bairros próximos ou caixas postais.

Contudo, todos esses aspectos até aqui citados ainda não es­gotam o diferenciado mosaico que podemos chamar de "juventu­de brasileira". As chamadas disparidades regionais e as relações entre o campo e a cidade devem ser consideradas em um necessá­rio diagnóstico. Isto é, as diferenças (com seus efeitos positivos ou negativos) entre regiões do país, entre ser jovem no campo ou na cidade, e mesmo as diferenças entre cidades grandes e pequenas devem ser levadas em conta para caracterizar matizes da condição juvenil. Certamente as particularidades locais podem atenuar ou acentuar algum dos vários vetores que produzem e/ou reprodu­zem desigualdades sociais.

NOVAES, Regina. Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias. In: ALMEIDA, Ma. Isabel Mendes de, EUGENIO, Fernanda (orgs.) Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 105-120.


domingo, 31 de julho de 2011

AULAS DE AGOSTO

De 11 a 19 de agosto teremos módulo com os Componentes Curriculares: Políticas para Educação Básica no Brasil, Teoria da História, Sociologia Contemporânea. As aulas serão na mesma sala de julho. Não haverá o seminário .... mas o artigo será cobrado!!!

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